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TIA MIMOSA
Tia Mimosa, cujo nome real nunca cheguei a saber, era a irmã mais velha de meu pai. Viveu os seus últimos anos na capital paulista, cercada do carinho dos filhos, netos e amigos.
Tia Mimosa era uma velhinha de simpatia que encantava, sempre risonha, meiga e cuja delicadeza fazia todo mundo feliz.
Os Benevides que viajassem até São Paulo tinham o dever e obrigação de uma visita a Tia Mimosa, cuja visita acabava sempre na disputa de partidas no jogo de buraco, a única distração da Tia Mimosa, que dizia sempre, cheia de convencimento, que ninguém lhe vencera no jogo de baralho.
Disse-me ela, quando jogávamos, que ninguém tivera o atrevimento de, jogando com ela, ganhar uma só vez.
Tia Mimosa era uma velhinha muito engraçada.
Os seus familiares recomendavam a quem lá fosse, deixar Tia Mimosa ganhar sempre como medida terapêutica, beneficiando a saúde da Tia Mimosa.
Quando, pela primeira e última vez que joguei uma partida de baralho com Tia Mimosa, a certa altura do jogo, disse ela com a sua voz de santa: – Ó meu Deus, se eu tirasse um ászinho...
Como não ficava bem eu fazer de imediato, na segunda rodada eu pus na mesa um dos ases que tinha e de repente Tia Mimosa sem pegá-lo deitou as cartas na mesa e, se desmanchando em risos, afirmou: – Eu não lhe disse antes, meu sobrinho, que você não tem condições de jogar comigo? Aprenda primeiro para depois vir.
Tia Mimosa tinha as duas coisas difíceis na vida: beleza física e simpatia.
BIBLIOTECA RAIMUNDO COLARES RIBEIRO
Transcrito do livro DO JARDIM DE NERCIRA, de Aldenor Benevides, HB Editora e Gráfica, Juazeiro do Norte, Ceará, 2000, páginas 12 e 13.
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